quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

apple of my eye

tenho-te aqui, escrito com a tinta invísivel que me sai dos dedos e escreve palavras a vermelho na pele.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

much like cats

"Boys have short attention spans, they like fast moving objects and shiny things and loud noises."


we own the sky


tenho sono, muito sono.

vagas de leão

ainda assim há pessoas que insistem em deixar os papéis em cima da mesa, que não obedecem à sequência das vidas e deixam as janelas abertas com o vento a assobiar ferozmente em dias de vendaval. e depois existem as que não se levantam para dar lugar. e as que vão sempre de pé mas que não se aproximam das janelas. há um grupo de pessoas que permanece imóvel, disperso por uma casa inteira, com papéis a voar, vento a assobiar, portas a bater e falta de muito espaço a mais. são essas pessoas que não vivem aqui, comigo. são pessoas tais, com quem uso vassouras para poder fechar a porta. não gosto de correntes de ar mas gosto de ar.

não quero papéis a voar e pessoas que não dão lugar.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

contamos com o calor do sol para nos iluminar as penas coloridas


e pegavam nas asas que não eram suas e tocavam outros tectos. e olhavam para baixo e viam pequenos rios de existências. e percebiam que nem todas as hélices são de barcos e nem todos os marinheiros vivem apenas em navios.

lápis de cera em quadros de giz

a intenção de te escrever, arrasta-se há mto mto tempo. tenho-me perdido nos dias e esqueço-me das palavras e dos pensamentos quando pego numa caneta. lembro-me de ti e do que tenho para te dar, quando as mãos estão ocupadas e os outros sentidos distraídos. são palavras importantes, estas palavras que tenho para ti mas esqueço-as e perco-as na beleza do momento em que as criei. mais tarde, surgem-me novas palavras, com outra música e com tanto outro encanto mas também estas, se perdem nas estradas, ficam paradas nos semáforos e perdem o comboio. mas eu não te perco a ti. tenho-te aqui, escrito com a tinta invisivel que me sai dos dedos e escreve palavras a vermelho na pele.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

que dias tão cheios




às vezes o tempo passa e não damos por isso. apercebemo-nos que há dias novos e dias velhos quando olhamos para as datas escritas por trás das fotografias que estão presas na parede e nos espelhos. os dias velhos levantam os dias novos, sorrisos de hoje e sorrisos de ontem. os dias novos crescem e sabem a fins de dia com os pés na areia e brisa quente que sobe do mar. não há dias perdidos, apenas horas que passam muito rápido, vidas que correm sem que haja um travão que as suspenda. cada dia é tão cheio como o anterior e tão cheio como o seguinte.

terça-feira, 20 de julho de 2010

trampolim.


são sempre melhores os dias em que a cabeça fica de fora. em que os reflexos se fazem desancorados do pensamento inteligente e em que saltar implica apenas sentir borboletas na barriga, sem queda.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

nada acontece por aqui, que não aconteça também aí.

e é agora que acordam os leões.
os dramas das bestas despertam com a claridade dos dias e vemos os seus olhos raivosos, sedentos de sangue, dentes com sorriso de fome sarcástica. há uma migração lenta e calculada, nada movida a paixões. o tempo é medido, a distância percorrida com passos de caçador experiente. ninguém escapa. rolam cabeças, caem corpos, sobe o pó no ar. todos os passos se tornam rápidos, apressados, sente-se a pulsação rápida e sofrida, a ansiedade da fuga e a ansiedade da caça, o desespero dos que não conseguem fugir e a alegria fria dos que os conseguem derrubar. quando toda a terra desce sobre si mesma, de novo. após toda a luta, poucos sobram naquele lugar repleto de silêncio assustado e cheiro a tristeza. quem sobra, sobra de espírito quebrado e com planos de fugir para outro vale. onde se escondem outras fugas, outras lutas e mais perdas.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

that is why I hold you near.

baixei o som aos hinos das noites mal dormidas por arrebatamento errado do coração, baixei a arma que tinha apontada um bocadinho mais à esquerda do centro do peito, colei os pedacinhos de unhas roídas e espantei as asas dos morcegos que me faziam sombra.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

tijolos constroem asas

Querida casa,

abandono-te hoje, com a insegurança dos passos. desculpa-me sair no meio da noite, com atitude de quem não tem coragem para assumir o que fez. tenho de ir, não é por não querer ficar em ti mas porque há mais sítios mais casas mais caras mais emoções que aqui, em ti, já não consigo sentir. é da protecção que fujo e me atiro para a invenção de novas horas, com a abertura para sofrer de novo o nervosismo do desconhecido. já me esqueci de todo o tempo que passei longe, não ficou marcado no meu corpo e pouco ficou no coração, porque aqui estou e tu, tudo apagas e tornas menos vivo. querida casa, não penses que não te sinto, sinto-te aqui, comigo, todos os dias e a todas as horas. mas sinto também que preciso da tua ausência, que o frio que faz lá fora far-me-á tão bem como o calor que me dás cá dentro. vou e voltarei, de certeza. porque volto sempre e tu sabes. e sabes também, que a minha fuga na noite, apenas se prende com o horário que não existe aqui. poderia sair ao meio dia, às 4 da tarde, às 11 da noite mas não, tenho mesmo de pegar nas malas e sair a meio da noite. porque as saídas pela madrugada são sempre mais dramáticas, mais lembradas, mais inesquecíveis e cheias de emoção. são também, histórias mais heroícas de contar, contos de capas que tapam a cabeça e ocultam a identidade, enquanto ela ainda procura o lugar onde quer ir e ser reconhecida. vou então. vejo-te dentro em breve, porque não conto ausentar-me por muito tempo, em tempo de rocha. até breve.

até breve. já volto.

domingo, 23 de maio de 2010

fora de horas

quando os dias não chegavam
e as noites eram imensas
sentava-me, minuto após minuto à beira da janela,
de pés descalços, pendurados ao vento.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

inevitável sarcasmo

porque se nós quisessemos, eram só mais dois dias de torturas, maus tratos e ironias entre nós. depois, abandonavamos o sarcasmo e a agressão e viveríamos entre flores e amores. mas não há rimas eternas, não há caminhos traçados a lápis de cor e cheiro a pêssego. não há nada, quando se escolhe assim. há pedras e subidas íngremes. mas talvez também um troféu lá em cima. quem sabe...

terça-feira, 18 de maio de 2010

ao som das campaínhas da música

queriamos nós que fosse sempre assim, de passos leves e pensamentos alegres. sentar-nos-íamos à sombra da mais frondosa árvore e ficaríamos ali sempre, de livro na mão, sono e sorrisos trocados. mas o mundo não é assim, é cruel e tira-nos à realidade, impede-nos de aproveitar, reduz o tempo cada vez mais e torna o claro em turvo. estraga tudo. o que ficou para trás e o que aí vem. e quando escolhe misturar as horas, brinca demais connosco e não permite que o sol brilhe entre as folhas. é sobre as saudades que me debruço, na impossibilidade de escolher os trechos de tempos que mais gosto e fazê-los puros e desprovidos de manchas.

quarta-feira, 31 de março de 2010

parágrafo

vou pegar nisto e fazer um nunca mais cá volto. termino e não começo nunca nada mais parecido com isto que fecho agora. tranco esta porta, perco as chaves e mando a equipa de demolição aniquilar com este lugar. é tão chato, tão incómodo, tão feio, tão impossível de sustentar, tão mau, que quero ter a certeza de não ter de entrar lá de novo. e ponto.

parágrafo

segunda-feira, 8 de março de 2010

engana-se o para sempre pois nem os dinossauros sobreviveram.

porque há amor com A maiúsculo, M maiúsculo, O maiúsculo, R maiúsculo que não dura para sempre, que não constitui familia, que não tem filhos e não aparece nas fotografias em formato de coração. é talvez um amor que se define pela ausência de limites e pela incompreensão de definições. é um amor que não é só feito a dois mas se parte em um, dois, três, num milhão e se multiplica várias vezes, quando menos se espera. senta-se e espera. aguarda silenciosamente o momento de se mostrar de novo e após fazê-lo, regressa, com calma e confiança tímida ao seu cantinho. é um tal que caminha sempre paralelamente aos outros, aos que falham, desistem, desaparecem, não querem saber e até, em relação aos que são intermitentes e não sabem ficar. este não fica, é.

black skies no longer exist

vamos pedalar até ao fim da estrada, onde o mundo acaba e o céu recomeça, a cada brisa intermitente dos sonhos por sonhar.vamos inventar novos caminhos e desenhar novas idas, apagando as voltas indecisas e definindo com incertezas, as nuvens com nomes de gente.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010




é errado tirar momentos que não são meus.
pegar em histórias, virá-las do avesso e pensar que as transformei na minha vida.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

home

people have a way of blinking and missing the moment...

Hank Moody in Californication

domingo, 10 de janeiro de 2010

de mochila às costas a conhecer os leões de África.

na maior parte dos dias da minha vida, apetece-me não ser quem sou. nesses dias, sou criança que quer acordar e escolher ser uma pessoa diferente e ter uma vida semelhante mas com outras condicionantes. sou a pessoa crescida que desce à noção de mundo de uma criança e imagino como seria pegar na bicicleta cor de rosa que está pendurada na garagem e levar apenas uma malinha pequena para conhecer o meu bairro, como se de uma grande e importante viagem se tratasse. imagino-me a sair de casa, ainda de noite e entrar num autocarro amarelo com direcção ao mar e viajar até a paisagem ser só praia e não se ouvir mais a respiração de ninguém a não ser a minha. imagino a simplicidade de viver longe daqui, imagino como seriam as saudades e a dor, penso nas várias maneiras de mudar o passado para fazer um presente diferente, imagino porque imaginar é divertido, é o que me faz andar, é o que torna realidade as minhas invenções, imagino como é espreitar para dentro do espelho e dps pousá-lo no chão com a felicidade de criança e saber que o melhor mesmo, é pegar na cassete de video e sentar-me no sofá a aproveitar os domingos à tarde enquanto eles existem.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

I still want to put my hands around your neck.

ainda me apetece matar-te, às vezes.
virar-te do avesso e agredir-te até perder todas as forças.
gritar-te obscenidades para poder gozar da expressão de desilusão privada, que sai dos teus olhos.
é incrível como ainda despertas em mim, de tempos em tempos, uma raiva descontrolada que apenas se acalma pela distância auto-imposta.
custa-me ferver assim perante o pensamento que ainda existes, ainda és pessoa, ainda te dás e recebes, ainda és capaz de ser feliz.