quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Está escuro na claridade



a tua ausência traz-me mais perto. como o drama que se cola aos pés. tudo o que fica sem nome, sem destino e na escuridão da distância, permanece longe, esquecido.

1690


E agora, fixar o tecto. Qual horizonte, qual árvore na curva, nem os navios que se avistam primeiro de popa, nem isso nem nada. O tecto, fixar o tecto. 

segunda-feira, 30 de abril de 2012

domingo, 29 de abril de 2012

Sabedoria popular



Alecrim aos molhos

Ela que se despe, que se recusa a ter roupa sobre o corpo, decide mostrar que não tem vergonha porque o corpo é seu e o pode mostrar, despojando-se do que mais a envergonha, a vontade de escondê-lo. Ela que vive na guerra entre as vontades de que quer ser e do que pode ser, tira a roupa, primeiro em frente ao espelho e depois, recusa-se a olhar-se de frente. Ela que cai e chora sobre si mesma, levanta-se e parte o espelho, não querendo testemunhas para o seu embaraço. Ela que não aguenta mais, não saber se volta a vestir a roupa ou se abre a porta e enfrenta o mundo, nua, sem roupa e sem vergonha. 

Na sombra

Eles fecham-se e ausentam-se e esquecem-se que foram lá, lá se deitaram e lá viveram. Saem e desaparecerem nas sombras, como se nunca tivessem acreditado, nem visto. Esquecem-se da chuva, como se esquecem das palavras e rendem-se ao nunca, porque o para sempre às vezes desliza nas janelas, derrete-se e desaparece.

domingo, 4 de março de 2012

Sobre os picos das roseiras

Fui atingida pela insensibilidade. Aquela dos sentidos, que apenas permite passar pelos dias, sem os sentir, nem bem nem mal. Saí de dentro de mim e caí para o poço da surdez, ausente dos saltos, dos altos, dos escorregas e da excitação. Foi a irritação a tomar conta, foi a raiva a consumir-me. Resisti a sentir-me, sentia que não sentia e continuei. Demorou para que chegasse a certeza de nada sentir, mas parece que ainda assim, a fechei do lado de fora da porta e recusei abrir quando a ouvia. Cresceu e cresceu e cresceu, como a semente que não foi plantada mas trazida pelo vento ou por alguém que ali passou. Troquei os dias de sentir, pelos dias da pressa, da fuga, de contar as horas para o fim destas horas. Deixei que respirar ficasse apenas para a noite, para os sonhos, onde não há distância entre dias, onde não distância entre horas. Plantei a semente da angústia que foi controlada pela insensível incapacidade de lidar.


Matei-me mais um pouco a cada dia até não conseguir mais respirar acordada.