domingo, 20 de setembro de 2009

sobre pés frios em fins de tarde de calor*

a pressa com que ela mergulhou naquele rio foi o que a levou a morrer nele. não houve momento de hesitação, teve a certeza que era assim que tinha de ser, era a decisão que tinha de tomar e mergulhou. no fundo do rio ou dela, algo se partiu e nunca mais fechou os olhos para respirar. agora, vive a boiar num rio sem marés, sem nunca nunca pestanejar perante as pedras, respirando água doce e fazendo amizades com os peixes que passam. é inevitável deixar de olhar em volta e ver se deixou alguém para trás mas parece que não, que ninguém a acompanhou naquele passeio de fim de dia que a levou a morrer ali. ou talvez, a tenham esperado na outra margem, onde nunca apareceu e cansaram-se de esperar. uma outra vida que seguiu, que pestaneja e que não se quebrou com a dela. mas essas mãos nunca sentiram de novo as mãos dela e esses olhos perderam os pequenos momentinhos em que os dela já não pestanejam. e já não faz mal porque tudo seguiu com a corrente, ela sem pestanejar e ele sem existir.

há histórias de Amor assim, que começam com partidas.

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